terça-feira, 29 de abril de 2014

24 de agosto de 2013

Eu me lembro como se fosse hoje...
Que dia é hoje mesmo?
Não há o que se lembrar...
Pois hoje já é mesmo quase ontem,
Não é incrível pensar que só hoje,
24 de agosto de 2013,
Será de fato 24 de agosto de 2013?
É espantoso!
Mesmo que milênios se passassem
Nossa civilização com toda sua pompa de eternidade
Fosse já os maias, os incas e os astecas de outrora,
E, nesse longínquo dia, inventassem um novo calendário,
Quiçá após um novo Cristo
De novo fosse 2013, mês agosto, dia 24,
Ainda assim, não seria este mesmo
Seria outro, seriam outros a pensar sobre o tempo
Seriam outros a espantar-se com a efemeridade
Do dia 24 de agosto e de todos os outros dias

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Lágrima de chuva

Uma pequena lágrima de chuva molha minha janela
Desenha um traço, parece toda uma vida,
desmanchar-se-á nos musgos ao seu pé.
São tantos os quilômetros que me separam de quem sou.
E tento ser razoável, entender o que me explicam
o dia e a noite, a lua cheia de ontem, eloquente e demente
Mas emudece-me e entristece-me saber...
Quisera andar livre e destemido
esquecido pelos que fui, aquecido pela luz tênue do plenilúnio,
andar sobre o musgo, a neve, a areia, o mar, o céu, as veias, o sangue, as lágrimas, a chuva, o lodo, os ossos, as cinzas e as cores...
Andar.

terça-feira, 20 de novembro de 2012

Mahler

Por que reluz tanto a cor do entardecer?
Ofende a vista pálida
na cidade cinza e insana
que hospeda passos tão incertos,
ocupados por hábito,
perdidos por tradição.

Por que soam tão melífluas
as notas harmônicas,
mesmo com aquela horda humana
já quase tão sem humanidade
que desfila aos farrapos
diante de pesarosos humanistas?

Tarde de contradições,
Webern, Mahler, Strauss
o crack, os mortos-vivos,
eles e nós, nós e eles,
os prédios ingentes,
pedra e sol,
que se põe algo frio,
exuberante,
e algo indiferente.

Noites

Tem noites que relutam em anoitecer,
o céu não escurece,
os olhos não se fecham,
a mente não se esvai
Culpem-se o querer insaciável,
a angústia do nada, a lua
e o zumbido no ouvido.
Mas adensa-se na alma
o escrúpulo de escrever linhas inócuas
como ontem fiz, antes também
e amanhã farei.
Vencido, agarro-me outra vez
a esta pequena vingança
fugaz e infértil.
De mim fizeste o escárnio,
aos teus caprichos, vida, sucumbi.
Mas aqui, enquanto os ruídos da noite
impõem-se à revelia,
regro e dito.
Ou dito eu as palavras de ordem,
sem ordem, sem rima, só dor.
E tu, como sempre, triunfas
e eu, como sempre, resigno-me
e dor.

terça-feira, 13 de novembro de 2012

despedida de duas almas

nos vemos por aí, algum dia, alguma hora perdida... quando o sono soar insano e a vigília vã... vá... obrigado pelo que foi... fui...

terça-feira, 7 de fevereiro de 2012

retrospectivo

Quando o sol nasce na...
Na...
Nada era aquela que ele chamava
moderna era do nada
quando a era já era passado...
E agora ultrapassado o alvoroço
do primor da inocência,
(ofensiva, abusiva, permissiva
e sempre passado...)
resta um alquebrado ser,
ou tentativa num teatro
repleto de poltronas confortáveis
insaciáveis, irascíveis e eu mesmo...
Aplaudo o final infeliz
Desfecho inevitável
daquele fadado bosquejo
Aplaudam, companheiros!
Não houve nem haverá mais corpos
Nem sangue a jorrar
Qual fonte perene do peito aberto
Somente um hilariante desbrilho
Eu mesmo e as poltronas,
Confortáveis, insaciáveis e irascíveis.
Aplaudam, companheiros...

sábado, 15 de outubro de 2011

Espectro na janela

O ranger dos dentes,
das portas, das almas
à noite se adensam.
Erguem-se os olhos
ao vazio
e o reflexo na janela
surpreendem.
Espectro de ontem,
apenas vigia.
Não se abala.
Ilusão, menos carne,
mas igualmente ilusão.
Imóvel, prova-me
sua inexistência
com minha solidão.