segunda-feira, 27 de setembro de 2010

fecunda letra

Um dia quis ter filhos...
Por razões absolutamente egoístas ou, talvez, egotistas, desejava ver em outro ser meus próprios olhos, meu próprio ser, alguém que pudesse “continuar-me”. Depois a vontade tornou-se hábito, desejava criar alguém, ter uma criança a quem pudesse ensinar algo e que na minha velhice pudesse me acolher e amenizar a solidão do fim. Com o tempo, a vontade não conheceu mais razões. Tenho pais incríveis, capazes de amar seus filhos com uma força e voracidade sem medida, capazes de fazer qualquer coisa por eles, pais que nasceram para muitas coisas, dentre elas para serem pais. Pais que mereciam ser avós. Mas agora me descobri estéril. Não é uma esterilidade orgânica, nada sei do meu sêmen, a não ser da sua cor, de sua consistência, é uma esterilidade da vontade. Hoje, por razões altruístas, não quero filhos. Não quero ver meus olhos tristes em outro ser, não quer ver meu próprio ser em outrem, alguém que pudesse continuar...

Nenhum comentário:

Postar um comentário